MINICONTO

O casamento nu

Era o mês de abril e um ano daqueles em que todas as manifestações de insatisfação por tudo, já haviam acontecido na cidade.
Mas houve, naquele ano, uma manifestação que estava perdida em meio à turbulência de uma grande cidade, mas que foi encontrada: um pedido de casamento.
Ele, um rapaz culto, objetivo, cabelos escuros, olhos sempre vivos, homem de duas palavras, uma de afirmação e outra de reafirmação.
Ela, uma moça intensa, desejosa das belas coisas da vida, emotiva, com olhos azuis esverdeados, junção de cores que traz a leveza e a paz que os “olhos escuros” de um gato preto trazem quando o desespero chega.
Casaram! Foi um casamento nu. Naquele momento, contava-se com a presença de poucos. Mas escolhidos! Estavam lá, os essenciais.
Momento nu do ...tcham tcham tcham tcham musical... vindo do trompete para a entrada da noiva.
Nu das crianças que têm a função de levar as alianças e aguardar a honra.
Nu da calda do vestido da noiva que se arrasta pela igreja.
Nu dos flashes, das maquiagens, do glamour.
Nu das cansativas entradas e desfiles dos 15 casais de padrinhos.
Nu de tudo que fosse acessório, nu do que mais se imaginar como fora do essencial em uma cerimônia.
Que não se negue: a emoção que sentimos quando o trompete anuncia a entrada da noiva trazida pelo pai, o sorriso dos amigos ao se reencontrarem naquela ocasião, a felicidade no rosto dos familiares e amigos, o bonito olhar dos noivos ao entrarem na igreja. Não negue a emoção que toma conta de você.
Mas esta cerimônia foi revestida apenas por um manto. A cor? Vocês escolhem.
Digo somente que foi um manto que trazia nele: um buquê formado por 24 rosas vermelhas, os noivos, o padre, a imagem santa de Cristo na cruz, as alianças e a luz intensa de uma vela que não derretia e uma luz que não se apagava.
A súplica do noivo era que abolissem tudo o que fosse acessório e deixasse apenas o essencial, o visível a olho nu.
E assim... O buquê foi se repartindo aos