poema em miniconto
As lembranas da minha infncia so ntidas em minha memria. Meu pai era um homem simples, montava a cavalo, ia para o campo. Era um homem simples. Lembro que minha me ficava cosendo, sentada, enquanto meu irmo pequeno dormia.
Eu vivia entre as mangueiras, menino sozinho lendo Robinson Cruso, que parecia infinito, uma histria que no acaba mais.
Lembro de uma voz que aprendeu a ninar nos longes da senzala. Uma voz que chamava.
- Venha para o caf!
Ah, um caf preto, como a preta velha. Caf gostoso. Ah! Caf bom.
E minha me ficava cosendo, olhando pra mim. No queria que ningum acordasse o menino que dormia no bero.
- Psiu... No acorde o menino - brigava com o mosquito que pousara no bero.
E dava um suspiro fundo. Que fundo! Ainda via meu pai campeando no mato. Parecia que no tinha mais fim aquele mato da fazenda.
Minha infncia foi bem vivida. Nunca vou esquecer do meu pai, simples, cavalgando. Minha me sentada cosendo enquanto meu irmo dormia no bero.
Eu lia Robinson Cruso. E eu no sabia que minha histria era mais bonita que a de Robinson Cruso.
CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO
Nasceu e viveu alguns anos em Itabira. Por isso, se sentia triste, orgulhoso. Sentia-se de ferro.
Era como se fosse noventa por cento de ferro nas caladas, oitenta por cento de ferro nas almas. E esse alheamento do que na vida porosidade e comunicação.
A vontade que sente de amar vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres, sem horizontes. Noites sem vida, solitrio. Tem o hbito de sofrer, porm, isso o diverte tanto. a doce herana itabirana.
Trouxe de Itabira algumas prendas: aquele So Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; o couro de anta, estendido no sof da sala de visitas; o orgulho, a cabea baixa...
Antes, teve ouro, gado e fazendas. Porm, hoje j no tem mais isso. Hoje funcionrio pblico.
No vive mais naquela cidade onde se divertia com seu sofrimento. Onde via as noites brancas. De Itabira restou-lhe saudades.