mimesis
Ela tem sempre em si, às vezes de forma latente, uma dimensão utilitária. Essa utilidade pode consistir seja num ensinamento moral, seja numa sugestão prática, seja num provérbio ou numa norma de vida - de qualquer maneira, o narrador é um homem que sabe dar conselhos.
Benjamin fala sobre a morte da narrativa.
Essa história nos ensina o que é a verdadeira narrativa. A informação só tem valor nomomento em que é nova. Ela só vive nesse momento, precisa entregar-se inteiramente aele e sem perda de tempo tem que se explicar nele. Muito diferente é a narrativa. Ela nãose entrega. Ela conserva suas forças e depois de muito tempo ainda é capaz de sedesenvolver.
Contar histórias sempre foi a arte de contá-las de novo, e ela se perdequando as histórias não são mais conservadas.
O homem dehoje não cultiva o que não pode ser abreviado." Com efeito, o homem conseguiu abreviar até a narrativa.
Não se percebeu devidamente até agora que a relação ingênua entre o ouvinte e onarrador é dominada pelo interesse em conservar o que foi narrado. Para o ouvinteimparcial, o importante é assegurar a possibilidade da reprodução. A memória é a maisépica de todas as faculdades.
O que se prenuncia nessas passagens é a memória perpetuadora doromancista, em contraste com a breve memória do narrador. A primeira é consagrada aum herói, uma peregrinação, um combate; a segunda, a muitos fatos difusos. Em outraspalavras, a rememoração, musa do romance, surge ao lado da memória, musa danarrativa, depois que a desagregação da poesia épica apagou a unidade de sua origemcomum na reminiscência.
Quem escuta uma história está em companhia do narrador; mesmo quem a lê partilhadessa companhia. Mas o leitor de um romance é solitário
Porém o leitor do romance procurarealmente homens nos quais possa ler "o sentido da vida". Ele precisa, portanto, estar seguro de antemão, de um modo ou outro, de que participará de sua morte.