Milton Santos: O Mundo globalizado
No início da década de 1990, Milton Santos e outros intelectuais se opuseram corajosamente a esse vaticínio. O espaço geográfico é sim universal e as redes técnicas permitem, cada vez mais, a difusão de ideias, pessoas e mercadorias, como processos simultâneos e abrangentes. A circulação de informação via internet e do capital financeiro no mundo são exemplos dessa nova dinâmica mundial. Mas essas mesmas redes são extremamente seletivas. São ancoradas nas sedes de grandes corporações e conectam certos mercados produtores e consumidores com grande eficiência e velocidade, deixando à margem aqueles com menor poder de compra. Por essa mesma razão, ao contrário de dissolver territórios, as redes constituem e legitimam novos territórios. São criados nesse processo, os lugares de inclusão e de exclusão, de concentração de renda e tecnologia, do consumo básico e do consumo caro e sofisticado. Os novos territórios são resultados desse espalhamento incompleto, ou da globalização excludente.
Para Milton Santos, o lugar é o palco da resistência contra a globalização. Mas essa resistência não tem um caráter ideológico, pelo menos explícito. Um morador de favela, um índio, ou um pequeno agricultor resiste aos preceitos da globalização porque tende a perder com ela suas garantias de satisfação de condições mínimas de sobrevivência, não porque se oponha ao seu conteúdo simbólico de dominação. Antes de tudo, existe uma luta contra a monetarização da vida cotidiana dos mais pobres e, sua consequência, a intensificação das relações de