michel foucault
A concepção de Hobbes acerca do estado de natureza é a de um estado de igualdade natural, no qual Deus não privilegiou ninguém. A natureza fez os homens iguais quanto às faculdades do corpo e do espírito, embora existam homens mais fortes de corpo e outros de espírito mais vivo: no conjunto todos se igualam.
A possibilidade que os homens têm de desfrutar de suas paixões naturais no estado de natureza faz com que a condição de guerra entre eles seja inevitável, uma vez que não há como haver paz sem uma restrição aos apetites individuais.
Os homens vivem sem ter um poder capaz de manter a todos em respeito. Dessa forma, como não existe um poder comum capaz de os submeter a todos, eles podem destruir-se uns aos outros. "Durante o tempo em que os homens vivem sem um poder comum capaz de os manter a todos em respeito, eles se encontram naquela condição a que se chama guerra; e uma guerra que é de todos os homens contra todos os homens" (Hobbes, 1974: 79).
Nessa condição de guerra de todos contra todos, a única segurança que os homens têm é a sua própria força e astúcia. Como existe situação de guerra, não há condições propícias à indústria, navegação, construções confortáveis e sociedade. Existe o perigo constante de morte violenta. Os homens têm a vida curta, pobre e solitária.
No estado de natureza os homens são livres e têm o direito natural de auto-proteção, isto é, a liberdade de usar seu próprio poder, da forma que quiser para a preservação de sua vida. Como os homens têm o direito a todas as coisas, a condição de paz não pode ser alcançada e nada pode ser injusto. "Onde não há poder comum não há lei, e onde não há lei não há injustiça" (Hobbes, 1974: 81). As noções de bem e de mal, de justiça e de injustiça "são qualidades que pertencem aos homens em sociedade, não na solidão" (Hobbes, 1974: 81).
Além disso, nessa condição em que vivem os homens, apresentada por Hobbes, não há propriedade, a cada homem só pertence aquilo que ele for