Mestiçagem
Pedro Rodolpho Jungers Abib•
"Somos todos juntos uma miscigenação / e não podemos fugir da nossa etnia / índios, brancos, negros e mestiços / nada de errado em seus princípios " ("Etnia" - música de Chico Science)
Introdução No atual contexto social, onde o chamado processo de globalização tem determinado mudanças substanciais em todas as esferas da atividade humana, estamos passando por um processo de redefinição de uma série de conceitos, valores e princípios que até há muito pouco tempo, sequer eram questionados. Entre esses conceitos estão o da diferença e o da identidade, que vêm sendo extensamente discutidos na teoria social onde diversas abordagens tem sido feitas, tornando a discussão em torno desses temas, um campo fértil para a formulação de análises e reflexões que embora muitas das quais discordantes entre si, muito têm contribuído para o aprofundamento dessas questões. A assim chamada "crise de identidade" é vista por HALL (1999), como parte de um processo mais amplo de mudança, que vem abalando os quadros de referência que davam aos indivíduos uma ancoragem estável no mundo social, ao passo que desloca as estruturas e processos centrais das sociedades modernas. Desse modo, a discussão sobre a identidade ultrapassa as questões territoriais, e os conceitos de nação e de raça. Nesse trabalho pretendemos analisar o que seria o processo de gestação de uma identidade mestiça em curso na sociedade brasileira como uma re-significação das matrizes étnicas que a constitui, abordando o conteúdo político que a ela se vincula. Ao explicitar o confronto teórico que se estabelece entre alguns autores sobre a questão da identidade e da mestiçagem, procuramos identificar contribuições e limites nesses trabalhos, apontando para a possibilidade de uma abordagem diferenciada no sentido de uma superação das teorias analisadas, e buscando uma síntese que não pretende aqui se esgotar, mas abrir caminho