MESQUITA MOREIRA Transportes e Exporta es no Brasil
O óbvio ignorado: custos internos de transporte e a geografia das exportações no Brasil*
Mauricio Mesquita Moreira
O debate sobre política comercial no Brasil e na América Latina tem sido historicamente dominado pelas chamadas barreiras tradicionais ao comércio exterior.
Fala-se sempre muito em tarifas, barreiras não tarifárias, OMC, acordos de livre comércio, etc. Isso não chega a ser uma surpresa, haja vista nosso passado protecionista, mas o fato é que a realidade mudou.
Esse tipo de ênfase fazia sentido quando as tarifas proibitivas eram a regra, assim como as lendárias “gavetas” das licenças não automáticas de importação.
Depois de um longo, sofrido e, na sua maior parte, bem-sucedido processo de liberalização e integração comercial, a importância desses tipos de barreiras caiu drasticamente
em toda a região. Isso não quer dizer que elas se tornaram irrelevantes. O Brasil, por exemplo, é parte de um grupo de países em que a liberalização comercial ainda é uma obra inacabada e tem passado por importantes retrocessos.1 Ainda assim, estamos muito distantes da situação que prevalecia no fim da década de 1980.
Ao mesmo tempo em que as barreiras tradicionais minguaram, outros obstáculos, como custos de transporte e travas administrativas nas fronteiras, cresceram rapidamente em importância. Os custos de transporte merecem particular atenção em função da complexidade e do alcance do seu impacto, tanto no nível da produção e da comercialização
Mauricio Mesquita Moreira é assessor econômico chefe, do setor de Comércio e
Integração, do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
* Este artigo é uma versão reduzida e modificada do Capítulo 2 de Mesquita Moreira et al. (2013), publicada inicialmente em uma versão mais técnica em Pinheiro e Frischtak
(2014).
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Ver Frischtak e Mesquita Moreira (2013).
das exportações quanto no de sua distribuição regional. Sua importância crescente reflete, por um lado, um