Mercadoria, Valor e Trabalho
CAPITAL*
Wellington Trotta **
1. Introdução
A crítica da Economia Política elaborada por Karl Marx (1818-1883) só pode ser compreendida em sua extensão quando se leva em conta a categoria ideologia, isso porque tal perspectiva metodológica possibilita levantar o véu que encobre as relações sociais contemporâneas, marcadas pelo desenvolvimento do processo de produção capitalista, em que os discursos da igualdade revelam desigualdades, liberdade que se revela submissão, trabalho que se revela condenação. Porquanto é preciso, com isso, buscar na Economia Política um discurso de totalidade cujo fim é descobrir as leis que regem o surgimento, a existência, o desenvolvimento e a superação desse complexo chamado capitalismo, que vem se constituindo em um organismo vivo capaz de superar seus próprios limites de existência, mesmo que seus melhores interpretes e apologistas vejam em si suas contradições. Talvez esse modelo não esteja pronto para, dialeticamente, parir o seu sucessor. Mas seja como for, precisamos de um olhar teórico seguro para interpretá-lo sob o ponto de vista científico e não sob a ótica do bom e do mau, tão ao gosto da escola maniqueísta. Por não pertencer ao maniqueísmo, destaco, desde logo, que em O capital,
Marx trabalha com categorias expostas na Ciência da lógica de Hegel (1770-1831), em que forma e conteúdo se completam necessariamente, como também toma de
Aristóteles (384-322 a.C.), principalmente de suas obras políticas-econômicas, e em especial a Metafísica, conceitos como valor de uso, valor de troca,
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trabalho,
potentia, ato etc. Obviamente que Marx é influenciado por esses e muitos outros filósofos, assim como todos o são, entretanto enfatizo Hegel e Aristóteles tomando por base os apontamentos dos Cadernos filosóficos de Lenine (1870-1924), que mesmo liderando o processo revolucionário russo de 1917, nunca olvidou ou descuidou do trabalho