mente, cérebro e mundos possíveis
Já me referi, algumas vezes, nesta coluna, ao filósofo americano Saul Kripke. Nascido em 1940, em Omaha, Nebraska, Kripke é um dos mais importantes filósofos vivos. Notabilizou-se pelas suas contribuições na área de Lógica (lógica modal), na Filosofia da Linguagem, e por uma controvertida interpretação da obra de Wittgenstein. Na Filosofia da Mente, formulou um polêmico argumento contra a identidade mente-cérebro.
A crítica à identidade mente-cérebro proposta por Kripke baseia-se em duas noções fundamentais: a de designador rígido e a de mundos possíveis. O argumento, exposto nas páginas finais de sua obra Naming and Necessity (1980), é muito sutil, o que, por vezes, dificulta sua compreensão imediata.
Considere, por exemplo, a proposição aritmética 2+2=4. É possível afirmar que ela é válida em todos os mundos possíveis. Ela é verdadeira a priori, ou, em outras palavras, ela é logicamente necessária.
Contudo, para Kripke, nem sempre o que é necessário é conhecido a priori. Por exemplo, a proposição "água = H20" é uma verdade necessária a posteriori, que, no caso, resultou de pesquisas científicas. Nada que não seja H20 poderá legitimamente ser chamado de água e, por isso, "água=H20" é uma proposição válida para todos os mundos possíveis. Isso torna o termo "água" um designador rígido.
A proposição "água = H20" é necessária, mas não logicamente necessária como 2+2=4. A história do universo poderia ter sido diferente e, como consequência, "água=H20" poderia não ser uma identidade obrigatória, como ocorre com 2+2=4. Ou seja, "água = H20" expressa uma necessidade contingente, embora válida para todos os mundos possíveis (designador rígido).
Ora, a proposição central da teoria da identidade mente-cérebro é "estados mentais = estados cerebrais". Será que essa proposição expressa uma necessidade contingente, como é o caso de "água = H20"? Uma necessidade contingente a ser descoberta pela Neurociência futura?
Kripke nega essa