Menino da rua
A luz está me incomodando, mas por quê? Eu tenho certeza que a mamãe fechou a janela, afinal, eu estou com um pouco de frio e mamãe sempre pensa nisso a noite. Ela se levanta, me da um beijo e depois fecha a janela, para não entrar bicho papão e nem friagem, diz ela que assim terei uma noite de sono mais tranquila, ela deve ter esquecido por hoje.
A mas com certeza não se esqueceu do café da manhã, o cheiro já está entrando no meu quarto, café, com certeza e tem leite também, sinto o cheiro do pão sendo esquentado no fogão e hoje tenho certeza que vai ter queijo, o cheiro é inconfundível.
O papai já está tomando banho, consigo ouvir o barulho da água caindo, é sempre assim, parece que ele está lavando o mundo dada a demora que ele leva para tomar banho, ele sempre diz que quando estamos limpos e cheirosos conseguimos encarar melhor a vida.
Eu queria saber onde está o meu outro cobertor, esse é tão fino eu devia ter dormido com um pijama mais grosso, mamãe deve estar tão cansada da minha bagunça com os brinquedos, porque é sempre assim, papai me traz um brinquedo novo e quero enturma – lo com os outros, para que ninguém se sinta menosprezado. Jogo tudo na sala, papai brinca comigo enquanto mamãe reclama da bagunça que estamos fazendo.
- Levanta moleque.
O que é isso? Ah! Deve ser meu irmão mais velho, é sempre assim, ele levanta e quer que eu levante só para a mamãe não me acordar com um beijinho, como ele é grande, nunca admite que gosta dos carinhos da mamãe.
- Vai moleque, está atrapalhando meu negócio.
Vou fingir que estou dormindo, assim ele vai embora e a mamãe vem me trazer café na cama.
- Vai moleque.
Esse chute doeu, acho que meu irmão já está exagerando, se ele fizer de novo, chamo a mamãe, ela me protege.
- Vamos Augusto, o moço vai atirar água em nós.
Abrir os olhos é dolorido, mais uma vez eu percebi que a minha vida não era apenas um sonho e que meu não é a minha vida sonho era