Memórias de um sargento de milicias

8690 palavras 35 páginas
1ª aula

Leia o texto abaixo:

A obra-prima inicial O primeiro contato com "Memórias de um Sargento de Milícias" provoca surpresa. Em primeiro lugar, pela linguagem, a língua tal como é falada entre nós. Surpresa também pelo tratamento da história em si. Surgia afinal o primeiro anti-herói de nossa literatura. Chegavam à cena os primeiros tipos que delineariam a ficção nacional daí em diante, como o padrinho do personagem principal (que Machado de Assis, José Lins do Rego, Jorge Amado e muitos outros copiaram e copiam ainda), além da comadre e do major Vidigal. Manuel Antonio de Almeida evitou a banalidade dos modelos consagrados. Fez entrar o homem em nossa literatura. Em seu livro não há herói nem vilão. Há o Leonardo Pataca, que deu um beliscão na saloia infiel, foi pai, foi traído, reincidiu, sofreu, amou. Morreu. Há o padrinho, que se apropriou de herança alheia, com a qual "arranjou-se" naquele fabuloso capítulo que é "O Arranjei-me do compadre". Apesar de ladrão e péssimo caráter, quer tornar o afilhado padre, amando-o, sacrificando-se por ele. Há, sobretudo a comadre ,e aí temos, ao lado de Macunaíma, de Mário de Andrade, dois dos melhores tipos da ficção nacional. Dos 5.000 ou 6.000 personagens criados pela imaginação dos escritores brasileiros, nenhum excede, na perfeição das linhas, no apoio da realidade, essa figura que escorre sem nome pela história, sendo apenas a comadre: "Devemos prevenir o leitor que o caso nas mãos do cego estava praticamente ganho. E só não estava definitivamente ganho porque do outro lado estava a comadre". Embora em pólo oposto, essa comadre forma com Capitu, de Machado de Assis, o que de melhor a pena de nossos romancistas fez em matéria de mulher. Manuel Antonio de Almeida foi também pioneiro na paisagem urbana que com ele penetra fundamente em nossa ficção. E mais: como acentuou Marques Rebelo, foi ele quem "pela primeira vez escreveu aproximadamente como se fala no Brasil".

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