Memórias de um sargento de milícias
Publicada primeiramente em 1852/1853, sob a forma de folhetins semanais na Pacotilha, suplemento dominical do Correio Mercantil, a obra Memórias de um Sargento de Milícias ocupa um lugar único no panorama literário nacional. Escrita em uma época em que predominava no Brasil a estética do Romantismo, o romance de Manuel Antonio de Almeida apresenta características que em muito o diferenciam da produção literária do período, não apenas a nacional mas também a oriunda da Europa. A estética romântica tem por características básicas a idealização, o predomínio do sentimento sobre a razão e a realidade, o exagero, o subjetivismo e a evasão. As Memórias, por sua vez, são isentas de traços idealizantes, uma vez que nelas há o predomínio do humor e da sátira da sociedade que retrata, que corresponde às camadas populares livres e à baixa burguesia do Rio de Janeiro dos tempos do príncipe regente D. João VI. Ao aparente descompasso entre a produção literária da primeira metade do século XIX e o único romance de Almeida pode ser tributada a pouca ou quase nenhuma atenção da crítica que as Memórias despertaram quando de seu lançamento. Um período em que o gosto popular e o da crítica se voltavam aos romances de Joaquim Manuel de Macedo, autor do célebre A moreninha, parecia pouco disposto a aceitar o humor satírico e de viés acentuadamente popular presentes na obra de Manuel Antonio de Almeida. A partir da transição entre os séculos XIX e XX, com o advento da estética realista-naturalista, esse panorama sofre transformações e as aventuras do malandro Leonardo começam a despertar mais atenção. José Veríssimo, em 1894, chega a identificar nas Memórias características que o colocariam como um romance precursor do Realismo e do Naturalismo europeus. Posteriormente, a crítica modernista redescobriu definitivamente a obra e a colocou no seu devido lugar de destaque no rol dos romances nacionais, valorizando o memorando Leonardo como um dos primeiros