Memorial
Mesmo não tendo muitas lembranças do meu passado na infância, minha mãe diz que eu sempre brincava de escolinha e adorava refazer os deveres foram feitos anteriormente. Não sei se esse foi o início da minha escolha profissional, mas acredito que, como nascemos com um dom, este é desenvolvido e testado a todo momento durante nossas vidas.
Lembro-me bem que quando tinha 12 anos, havia uma vizinha, que era de família pobre, ela devia ter por volta de 9 ou 10 anos e não sabia escrever e nem ler. Então, como eu brincava muito de escolinha, resolvi ser explicadora. Minha mãe, que já tinha sido professora, e agora é empregada doméstica, ficou maluca, porque eu comecei a avisar a todos na rua onde eu morava e coloquei um aviso no portão. Mas eu só tinha 12 anos. Foi quando essa vizinha citada anteriormente queria muito aprender a ler e escrever. Comprei um caderno para ela e começamos a brincadeira. Dava a explicação, para os demais vizinhos, dos deves que eles traziam de suas respectivas escolas e, quando terminavam, eu os dispensava e me dirigia até a casa da menina chama-la. A família dela era muito ignorante e não aceitava que ela aprendesse “essas coisas”, pois ninguém sabia ler ou escrever. A mãe dizia para todos que ali estavam: “Você é burra, nunca vai aprender nada disso!”. Como ela chorava. O pai, quando ela não arrumava a casa ou não cuidava dos irmãos como ele queria, a agarrava pelo braço e a girava no ar, arremessando-a na parede. Era difícil ver aquela cena. Tanta ignorância, tanta crueldade, porém, com a nossa rotina diária, essa querida e decidida aluna, após uns seis meses, estava escrevendo seu nome. E chorando toda vez que o conseguia. Em contraste com a cena vivida por ela em casa, era muita emoção e felicidade oriunda de nossa realização.
Acredito que foi nesta missão, cumprida, que passei a me identificar com minha atual profissão.
Aos 15 anos, começaria o ensino médio e quanto mais perto chegava, indecisa eu ficava. Na escola, sétima e