Memorial do Convento

Memorial do Convento
Capítulo XXV
O capítulo que vou apresentar é o vigésimo quinto, que pertence à quarta sequência da obra- A inauguração do convento e a morte de Baltazar.
Neste capítulo Blimunda peregrina durante nove anos, conhecendo todos os caminhos e sendo por todos conhecida, mostrando-se desassossegada e desassossegando, procurando e sendo procurada, ora maltratada, ora tomada por santa, perdendo a noção do tempo e do espaço, imaginando o reencontro com
Baltasar numa qualquer praça da vila.
À sétima vez que passa por Lisboa, cheira-lhe a carne queimada. É dia de auto de fé e são onze os supliciados pelo fogo. Um dos condenados é “um que fazia comédias de bonifrates e se chamava António José da Silva”, o outro não tem a mão esquerda. Blimunda dirige-se a ele e diz-lhe ”Vem” desprendendo a vontade de
Baltasar que só a ela pertence.
Esta última sequência reveste-se de uma importante dimensão simbólica.
Por um lado, a peregrinação de Blimunda em busca de Baltasar constitui climax desse amor puro, desinteressado e absoluto que une os dois amantes, desde o inicio da diegese.
Por outro lado, o facto de Blimunda ter encontrado Baltasar, após sete anos de buscas, é também significativo, uma vez que o número sete representa a totalidade, fechando-se, então, o ciclo de que a diegese narrativa nos dá conta, com o reencontro dos dois, apesar da morte de Baltasar.
O amor de Blimunda e Baltasar permanece para além da morte, assumindo-se como o símbolo máximo da força da paixão que uniu uma mulher feiticeira e um pobre soldado maneta.
Agora, para concluir, irei citar um excerto que comprova o grande amor entre
Baltasar e Blimunda: “Assim te encontro, Blimunda, Assim te encontro Baltasar, Por onde foi que andaste estes anos, que casos e misérias te aconteceram, Diz-me primeiramente de ti, tu é que estiveste perdido, Vou-te contar, e ficariam falando até ao fim do tempo”.