Memorial do Convento
É preciso deixar de fazer História de Portugal para se começar a fazer a história dos portugueses. José Saramago, 1984
A história é acima de tudo uma arte, uma arte essencialmente literária. Georges Duby
O discurso ficcional não será, também ele, uma procura da verdade através da visão mágica que a criação permite? Pelos caminhos da ciência e da arte, da razão e da emoção, não pretende o homem chegar a um ponto comum — o da revelação do mistério de existir? Teresa Cristina Cerdeira da Silva.
O diálogo com a história
Diz Saramago, a respeito de Memorial do Convento: «O Memorial é uma reconstrução histórica a partir da ficção literária, porque toda a narração está fundamentada no passado para compreender o presente».
Trata-se, pois, de um texto que, na sua execução e propósitos, pretende organizar a história por intermédio do ficcional. É um discurso que se pretende histórico e como tal se constitui: narrar o passado com os olhos fitos no presente é o projecto político do autor que o discurso realiza. Por isso, o diálogo dos tempos orienta a sua perspectiva narrativa: a enunciação é muitas vezes profética em relação ao tempo do enunciado e o passado é relido com a experiência vivida do presente.
Análise do título: Memorial do Convento
O título do romance remete para duas dimensões:
Uma dimensão temporal — o vocábulo ‘memorial’ significa escrito em que se relatam factos memoráveis, o que implica necessariamente um movimento de recuo no tempo;
Uma dimensão espacial — referência a um espaço concreto, um convento.
Análise da contracapa de Memorial do Convento
Era uma vez um rei que fez promessa de levantar um convento em Mafra. Era uma vez a gente que construiu esse convento. Era uma vez um soldado maneta e uma mulher que tinha poderes. Era uma vez um padre que queria voar e morreu doido. Era uma vez. (sublinhados nossos)
Esta sinopse aponta para as duas dimensões que estruturam o romance: