Memorial do Convento

880 palavras 4 páginas
João Elvas passou todo este dia no quente das tabernas, adubando com a malga do vinho as viandas do alforge, prodigamente abastecido pela ucharia de sua majestade. No geral, os pedintes do coice tinham-se deixado ficar pela vila, esperando que estiasse para irem no encalce do cortejo. Mas a chuva não parou. Caía a noite quando as primeiras viaturas da comitiva de D. Maria Ana começaram a entrar em Vendas Novas, mais parecendo um exército em debandada que cortejo real. As cavalgaduras, derreadas, mal podiam arrastar as berlindas e os coches, algumas iam-se abaixo das mãos e morriam ali mesmo, presas aos arreios. Os criados e os moços de cavalaria agitavam archotes, a vozearia atroava, e foi a confusão tamanha que se achou ser impossível encaminhar aos seus respectivos aposentos todos os acompanhantes da rainha, de modo que muitos deles tiveram de voltar para Pegões, onde finalmente se instalaram, sabe Deus em que deplorável estado. Foi uma noite de grande desastre. No dia seguinte, deitaram-se contas e viu-se que tinham morrido dezenas de bestas, não contando as que ficaram pelo caminho, com os peitos rebentados ou os membros partidos. As damas davam-lhes esvaimentos de cabeça e delíquios, os senhores disfarçavam a estafa rodando a capa pelos salões, e a chuva continuava a inundar tudo, como se Deus, por alguma zanga particular não comunicada à humanidade, tivesse, à falsa fé, decidido repetir o dilúvio universal, agora definitivo.
Quisera a rainha seguir para Évora nessa mesma madrugada, mas foi-lhe representado o perigo da empresa, além de virem atrasadas muitas carruagens, o que resultaria em prejuízo da dignidade do cortejo, E os caminhos, saiba vossa majestade, estão que não se pode, quando el-rei por eles passou, foi uma calamidade, que fará agora, com a interminável chuva que caiu, dia e noite, noite e dia, mas já está despachada ordem ao juiz-de-fora de
Montemor para que mande juntar homens que vão reparar os caminhos,

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