Memoria e poder
A memória, como fenômeno individual, corresponde às possibilidades de atualização de certas Aula inaugural proferida na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo, no dia 2 de março de 1998 Professora Titular do Departamento de Enfermagem Fundamental da Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro - Núcleo de Pesquisa de História da Enfermagem Brasileira (Nuphebras). Pesquisadora sênior CNPQ impressões ou informações passadas, mediante funções neuropsíquicas complexas, que atuam seletivamente, segundo estímulos externos a motivações internas. A faculdade de memorizar e recordar é fundamental para o processo ensino/aprendizagem, para o desenvolvimento da personalidade, para a vida de relação e para a integração da pessoa na sociedade. Sua importância pode ser melhor apreciada pelos dramáticos efeitos de sua perda, a amnésia.
O significado da memória pode ser melhor apreendido metaforicamente, através da mitologia indiana do esquecimento e da recordação (ELIADE, 1991), na qual a anamnese aparece como uma forma de conhecimento. Nesta concepção, o esquecimento
(amnésia) é comparado ao sono, ao cativeiro, à perda da consciência do self, à cegueira, à ignorância e à morte. Ao contrário, a recordação (anamnesis) é comparada ao despertar, à libertação, à tomada de consciência de sua identidade, ao desvelamento da realidade, à sabedoria e ao renascimento.
A memória coletiva, além de uma conquista, é também um instrumento e um objeto de poder. Estando relacionada à formação da identidade social, da solidariedade grupal e da consciência crítica, ela é objeto de manipulação por parte das pessoas e dos grupos que detêm o poder de emprestar visibilidade e prestígio a certos acontecimentos, pessoas, práticas ou idéias e não a outros, em escala local, nacional ou planetária, que são os “formadores de opinião”, como os profissionais da comunicação, os políticos, os artistas, bem como os