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Os escritores e as escritoras Cadernos negros buscam, entre outros objetivos, “revigorar a memória das várias tradições afrodescendentes que circularam e se reconfiguraram [...] e continuam sendo refeitas por todo século XIX e XX” (SOUZA, 2006, p. 49). Compreendendo a memória como importante para a construção da identidade dos afro-brasileiros, as escritoras e os escritores da literatura negra tematizam a memória dos afrodescendentes em suas produções, trazendo à tona uma memória coletiva invisibilizada, negada e apagada pela história oficial brasileira. Por meio da reinvenção poética, essas escritoras imortalizam a experiência vivenciada e transmitida de pai para filho e de mãe para filha num processo constante de reconfiguração/preservação simultânea de tradições seculares transmitidas pela oralidade.
Ao escrever fatos e momentos importantes do passado afrodescendente, as escritoras (re)inventam e (re)atualizam a memória afro-brasileira, pois, segundo Ecléa Bosi (1994), lembrar significa aflorar o passado, combinando com o processo corporal e presente da percepção, misturar dados imediatos com lembranças. A memória permite a relação do corpo presente com o passado e, ao mesmo tempo, interfere no processo atual das representações.
Segundo Alfredo Bosi (1992), no ensaio O tempo e os tempos, é a linguagem que possibilita a memória articular-se formalmente e duradouramente na vida social. Ainda segundo Bosi,
Pela memória as pessoas que se ausentaram fazem-se presentes. Com o passar das gerações e das estações esse processo “cai” no inconsciente lingüístico, reaflorando sempre que se faz uso da palavra que evoca e invoca. É a linguagem que permite conservar e reavivar a imagem que cada geração tem das anteriores. (BOSI, 1992, p.28)
Destarte, de acordo com o pensamento de