Maçonaria e igreja
Assinalando o início da Quaresma, o Senhor Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, difundiu uma Nota Pastoral sobre “A Páscoa da Eucaristia”. Nessa Nota, Sua Eminência desce a fazer uma referência brusca àquilo que designa genericamente por “Maçonaria”: segundo D. José, “um católico, consciente da sua fé e que celebra a Eucaristia, não pode ser mação”.
O pretexto tomado por Sua Eminência para se pronunciar sobre a Ordem Maçónica foi a recente realização, numa das capelas mortuárias da Basílica da Estrela, em Lisboa, de uma cerimónia, descrita na Imprensa como “ritual maçónico”, em honra do falecido presidente do Tribunal Constitucional, Luís Nunes de Almeida – cerimónia efectuada sob a égide de uma velha instituição civil, de raiz anti-clerical, denominada Grémio Lusitano, sob a qual opera uma organização que se reclama dos mais altos valores maçónicos: o Grande Oriente Lusitano. D. José considerou a realização de tal “ritual” uma “iniciativa imprudente e indevida”; e, neste aspecto, não seremos nós a apreciar aqui e agora as suas razões.
Pouco importa, porém, o pretexto: a querela entre Grémio e Patriarcado, surgindo como uma disputa territorial enunciada no domínio do litúrgico, é muito menos importante do que as questões de princípio, sérias e profundas, que a Nota Pastoral suscita. Evitando qualquer polémica sobre a escassa solidez historiográfica da Nota de D. José Policarpo, impõe-se em todo o caso que Sua Eminência Reverendíssima tenha acesso ao mais elementar esclarecimento sobre a instituição a que se refere quando fala de “Maçonaria”.
Afirma D. José Policarpo que “é longa e atribulada” a história “das relações da Maçonaria com a Igreja durante os últimos três séculos”. Uma afirmação tão genérica requereria, em circunstâncias normais, uma precisão focalizadora. Não a tendo feito o Senhor Cardeal Patriarca, é forçoso que a façamos nós no início desta reflexão: ao escrever “a Igreja”,