Matéria Np2 Economia
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Entrevista
Paul A. Samuelson afirma que Brasil ainda paga caro pela "herança maldita" da hiperinflação
Nobel diz que juro alto é mal necessário
Robinson Borges De São Paulo
A política de juros do Banco Central (BC) é um mal necessário para a economia do Brasil, país manchado pela história de longos períodos de hiperinflação. O diagnóstico é do economista americano Paul A. Samuelson, um dos mais influentes do século XX e ganhador do Prêmio Nobel de 1970. Para ele, essa "herança maldita" afeta a confiança na estabilidade. Nesse caso, a inflação pode ser administrada ao se aumentar as taxas de juros nominais. "Pode ser um mal necessário", disse Samuelson, que completou 90 anos ontem.
A solução da falta de confiança na condução da política de combate a inflação num país com as características do Brasil, porém, requer um BC independente, de acordo com ELE. No entanto, Samuelson não fecha a questão sobre a independência de bancos centrais em economias estabilizadas. "Não sou dogmático com relação a esse tema."
O autor de "Economia", uma "bíblia" para economistas lançada em 1947, é enfático em relação ao mau uso que a plutocracia americana - governada por homens interessados no dinheiro - faz da globalização. Por isso, critica a agressividade americana no comércio internacional e considera o protecionismo um vírus espalhado pelos países em desenvolvimento. Avalia, porém, que acordos comerciais como a Alca podem ser positivos para o Brasil.
Apesar de revelar-se otimista com o panorama econômico, Samuelson teme que a queda do dólar possa comprometer o crescimento de países emergentes, como o Brasil, e diz estar receoso com o aumento dos déficits gêmeos americanos. Prevê que a aposentadoria da geração dos "baby boomers" terá impacto negativo no médio prazo. Isso porque não haverá trabalhadores em idade produtiva para substituí-los, o que aumentará ainda mais o déficit.
Professor do Massachusetts Institute of Technology