MATERIALISTA DA RELIGIÃO
Ricardo Mariano
Quanto mais velho vou ficando e mais maduro na profissão, mais me convenço de que nunca se é excessivamente materialista quando o que se pretende honestamente fazer é, com todas as letras e todas as exigências epistemológicas e implicações deontológicas, sociologia da religião.
A ciência científica como vocação, afinal.
Antônio Flávio Pierucci, O desencantamento do mundo,
p. 84.
A sociologia brasileira, em especial a sociologia da religião, perdeu, em 8 de junho de 2012, um de seus principais expoentes nas duas últimas décadas:
Antônio Flávio de Oliveira Pierucci. “Encantou-se”, poetizou carinhosa e sagazmente um jornalista.
Este artigo, acima de tudo, visa homenageá-lo e ao legado sociológico que nos deixou. Para tanto, discorre sobre sua exitosa carreira acadêmica, narra algumas de suas escolhas intelectuais, seus embates
Artigo recebido em 15/01/2013
Aprovado em 25/01/2013
teóricos e, sem qualquer pretensão de mapeá-la a fundo e por completo, apresenta parte de sua obra, enfocando, de forma sucinta e lacunar, sua sociologia da religião de corte weberiano.
Em primeiro lugar, devo dizer que Flávio Pierucci foi meu mestre e meu amigo querido por duas décadas e meia. Convivência que me permite assinalar – para referir-me à sua pessoa – que ele era espirituoso, carismático, jovial, piadista, irreverente, irônico, autêntico, temperamental, afetuoso, generoso, cerebral e emotivo, apolíneo e dionisíaco.
Quem o conheceu de perto sabe que Flávio (como os amigos o chamavam) era, como se diz popularmente hoje, “uma figura”. Especial. Marcante.
No campo profissional, era um professor motivado e estimulante, gestor dedicado, debatedor contundente e polemista instigante, pesquisador antenado, escritor habilidoso, revisor cuidadoso.
Era um defensor de teses fortes e de posições e valores democráticos, republicanos e seculares. Estudioso, tinha paixão pela