MATEMATICA
Eu quero e não quero a verdade. Conhecer a verdade pode ser uma maldição. Talvez quem conheça a verdade morra. Verdade pode ser sinônimo de morte. Talvez quem conheça a verdade surte de imediato. Sofra um ataque cardíaco ou vegete pra sempre. Enfim. Vão dizer que a verdade não existe. Que isso é papo de maluco. Mas a verdade, no mínimo, se esconde atrás da afirmação de que a verdade não existe. O fato de a verdade ser indizível, invisível e intocável não quer dizer que ela não exista. A verdade pode ser impensável, incogitável, inconcebível, imensurável, mas isso ainda não anula sua existência.
Admito que em cada texto que escrevo carrego a ambição de dizer tudo. Em minha ambição, sustento a ilusão de dizer a verdade. Esforço-me para dizê-la mas ela sempre me escapa. Sem dúvida, cada frase que escrevo é uma tentativa frustrada de dizer a verdade. Minhas palavras são tiros que nunca acertam o alvo. Cada frase confirma minha infelicidade e constata que a verdade é escorregadia. Minhas frases sempre resvalam. Minhas frases sempre erram o alvo.
Enxergar a verdade seria como conseguir ver - ao mesmo tempo - todos os gomos de uma bola de futebol. Expressar a verdade seria como chutar uma bola de futebol por todos os lados, ao mesmo tempo. Mesmo se fosse possível, a bola permaneceria parada, inerte. Talvez seja por isso que o silêncio está muito mais próximo da verdade do que a tentativa de dizê-la.
Sempre que tento me aproximar da verdade ela se desfaz em contradição, surge esférica à minha frente e não permite que eu a diga. A verdade sempre se esquiva do meu raciocínio, foge de mim com elegância, desliza pelas minhas frases, dribla minha palavras, some num buraco negro do mundo das ideias, se esconde numa fenda quântica lingüística qualquer.
Ocorre que as palavras não conseguem dizer a verdade. Não podem dizer a verdade. Palavras nunca dizem a verdade. Todas essas frases são mentirosas. Palavras somente dançam loucamente em