Martin Guerre
Davis, Natalle Zemon.
O retorno de Martin Guerre/Natalle Zemon Davis; tradução /Denise Bottamann. – Rio de Janeiro; Paz e Guerra, 1987.
O Retorno de Martin Guerre, de Natalle Zemom Davis, é destes livros em que a leitura não é maçante nem cansativa; ao contrário, é prazerosa e fluida. Talvez pela prática de produção de roteiros para o cinema, a autora soube fugir das fórmulas prontas tradicionais da produção da historiografia (ainda em tempos de predomínio dos paradigmas marxistas e/ou economicistas). A fluidez, certo descritivismo despojado e mesmo “coloquial”, uma abertura para a sexualidade (ou será para a sensualidade?), permitiu a autora dar conta de aspectos e pormenores que se revelam de fundamental importância para o desvelamento dos costumes e das ações, reações e dos pensamentos de seus “personagens” ( e digo “personagens por que no livro de Natalle, Martin Guerre – o verdadeiro e o falso, Arnaud du Tilh – sua esposa Bertrande de Rols, e demais personagens estão expostas pela autora de modo a darem ao seu livro um caráter de romance de ficção e de narrativa despojada sem no entanto deixar de ser história e das de melhor qualidade. Sem fugir à uma certa “estrutura econômica” (dentro da qual a autora colocou os seus sujeitos e concentrou a sua narrativa), Natalle soube expor e apresentar a sua trama de modo a incorporar um caráter inesperado e imprevisível; libertando-se dos condicionamentos da macro-análise estrutural e das deformações do macro sobre o cotidiano das pessoas estudadas. A própria aldeia de Artigat, o avanço do protestantismo não estão separados por fronteiras definidas, nem são condicionantes ou condicionados das ações dos indivíduos de modo inescapável; os seus atores são jogados dentro do cenário da aldeia e região como que livres e soltos, mas sem deixar de se ligarem às idéias e às influências que “pairavam no ar” naquele momento histórico específico. Ao trazer para