Marshall
Uma interpretação da curva de oferta de Marshall e a arquitetura de uma moderna Teoria da Oferta e Demanda
V.II N.4 DEZ.00 pp. 61-84
Gerson Lima
1. Introdução
A Lei da Oferta e Demanda é considerada como um dos princípios básicos, quase como um sinônimo da teoria econômica. Apesar disto, permanecem na literatura da economia algumas perplexidades a seu respeito.
No contexto microeconômico, Becker (2000, p. 111) oferece um resumo da situação ao afirmar que mesmo quando os estudantes conseguem recitar oferta e demanda em situações de contos de fadas, eles têm dificuldades para aplicar o conceito no mundo real. De fato, a teoria neoclássica define oferta somente num modelo de concorrência perfeita e, mais ainda, nega sua existência fora desta. Ou seja, quando a vida real apresenta
imperfeições e deixa de ser um conto de fadas, então não existe uma versão neoclássica da Lei da Oferta e Demanda.
Complicando o cenário, disseminou-se a idéia de que, se o governo não interferir, as forças de oferta e demanda levarão o mercado neoclássico a se auto-regularem no sentido de garantir o pleno emprego e o preço mais justo dos fatores de produção. Aparentemente, ao discutir esta idéia, tanto os economistas que a aceitam como os que a rejeitam desconsideram que ela só se refere ao modelo da concorrência perfeita. Caso o mundo real se afaste deste modelo, a teoria neoclássica afirma que o governo deverá intervir para que voltem a funcionar as forças de oferta e demanda, assegurando assim o retorno da autojustiça do mercado. Ou seja, neste caso, e pelo menos até que a imperfeição seja superada, as variáveis típicas de política econômica têm o poder de deslocar as curvas de oferta ou de demanda no sentido de promover um resultado socialmente mais justo.
Aqueles não são poucos que discordam da premissa de que o mercado neoclássico pode assegurar a justiça econômica resolveram, por via das dúvidas, colocar também a teoria da oferta e demanda sob suspeita.
O mesmo