Mario gusmão
O SANTO GUERREIRO CONTRA O DRAGÃO DA MALDADE
Jeferson Baceúrr*
M
ário Gusmão foi o maior ator negro contemporâneo da Bahia. Participou de dezenas de peças de teatro, fez dezesseis filmes, participou de novelas e seriados na televisão brasileira, além de inúmeros espetáculos de dança, tornando-se, como o disse Clyde Morgan, um arquétipo, um ícone para a população afro-baiana. Sem jamais haver pertencido a uma organização negra, sem qualquer retórica militante, tomou-se um personagem mitificado por todos aqueles que lutam pela igualdade racial na Bahia. Falo de Bahia, porque embora tenha tido oportunidades e até mesmo trabalhado no Sudeste, a sua presença e atuação mais constante foram marcantemente no território baiano. O acompanhei, à distância na maioria das vezes, por quase 30 anos. O conheci quando me iniciei no teatro, trabalhando como ator, ainda muito jovem, no Teatro Vila Velha. Tomamo-nos de imediato amigos, exercendo ele sobre mim toda uma atitude paternal, protetora, diante da minha ignorância, perante o mundo artístico. Foi até os seus últimos dias para mim um irmão mais velho, amoroso, sábio e sempre tolerante. Portanto, quando em 1994, instado pelo então Diretor do Centro de Estudos Afro-Orientais, da Universidade Federal da Bahia, Dr. Júlio Braga, esbocei um projeto intitulado "Memória do Povo Negro", onde pretendia, através do depoimento de membros significativos, recuperar a história da comunidade negra na Bahia, a opção primeira foi fácil: Mário Gusmão .
Após um afastamento nosso por vários anos, foi uma alegria para mim reencontrá-lo para a realização das entrevistas, mas tive um choque: desempregado, vivendo de "bicos". muito deprimido. Nas oito entrevistas, durante os meses de agosto e setembro, conversamos muito, e ele revelava-me que a sua
Professor Adjunto do Depart;imento de Antropologia da UFBa
maior agonia era depender do favor. Queria sua aposentadoria, legal e legítima, nem favores, nem mais