Manifesto Ciborgue
TEXTO 01
MANIFESTO CIBORGUE:
CIÊNCIA, TECNOLOGIA E FEMINISMO-SOCIALISTA NO FINAL DO SÉCULO XX
Donna J. Haraway
Um ciborgue é um organismo cibernético, um híbrido de máquina e organismo, uma criatura de realidade social e também uma criatura de ficção.
Realidade social significa relações sociais vividas, significa nossa construção política mais importante, significa uma ficção capaz de mudar o mundo.
Os movimentos internacionais de mulheres tem construído aquilo que se pode chamar de experiência das mulheres”. Essa experiência é tanto uma ficção quanto um fato do tipo mais crucial, mais político. A libertação depende da construção da consciência da opressão, depende de sua imaginativa apreensão e, portanto, da consciência e da apreensão da possibilidade. O ciborgue é matéria de ficção e também da experiência vivida – uma experiência que muda aquilo que conta como experiência feminina no final do século XX. Trata-se de uma luta de vida e morte, mas a fronteira entre ficção científica e a realidade social é uma ilusão ótica.
A ficção cientifica contemporânea está cheia de ciborgues – criaturas que são simultaneamente animais e máquina, que habitam mundos que são, de forma ambígua, tanto naturais quanto fabricados. A medicina moderna também está cheia de ciborgues, de junções entre organismo e máquina, cada qual concebido como um dispositivo codificado, em uma intimidade e com um poder que nunca , antes, existiu na história da sexualidade. O sexo-ciborgue restabelece, em alguma medida, a admirável complexidade replicativa das samambaias e dos invertebrados – esses magníficos seres orgânicos que podem ser vistos como uma profilaxia contra o heterossexismo. O processo de replicação dos ciborgues está desvinculado do processo de reprodução orgânica. A produção moderna parece um sonho que faz com que, comparativamente, o pesadelo do taylorismo pareça idílico. Além disso, a