Manifesto Ciborgue
Publicado pela primeira vez em 1985, o manifesto de Haraway utiliza o ciborgue como uma imagem condensada das transformações sociais e políticas do Ocidente na virada do século. Essas transformações dizem respeito, principalmente, aos desafios trazidos pelo binômio ciência & tecnologia, tanto no que diz respeito à nossa percepção do mundo e de nós mesmos, quanto para as nossas relações sociais. Com as novas tecnologias, as fronteiras entre os animais e os seres humanos, entre o orgânico e o inorgânico, entre cultura e natureza entram em colapso. A microeletrônica resulta numa desmaterialização numérica do mundo, numa indiferenciação cada vez maior entre o visível e o não-visível, entre o físico e o não-físico. A biotecnologia sugere um novo entendimento sobre o que seria a vida, focalizando a sua dimensão molecular.
Híbrido de máquina e organismo, o ciborgue simboliza a ruptura e a confusão dessas fronteiras e pode ser apropriado criticamente para se fundar uma nova política. Neste sentido é que Donna Haraway propõe um rompimento com o marxismo, o feminismo radical e outros movimentos sociais que fracassaram ao operar com categorias como classe, raça e gênero. Em relação ao movimento feminista, a crítica de Haraway diz respeito ao modo como ele vem operando com a categoria "mulher" de uma forma naturalizada. Segundo Haraway "não existe nada no fato de ser mulher que una de maneira natural as mulheres". Sendo assim, seria necessário romper com essa política da identidade e substituí-la pelas diferenças e por uma coalizão