Manifestações nas ruas
As manifestações no Brasil, iniciadas pelo Movimento do Passe Livre e pouco a pouco ampliadas para diferentes setores da população, a grande maioria jovens, provocaram uma reviravolta. Depois de colocar quase um milhão de pessoas em 60 cidades, chegou a dois milhões de pessoas em 400 cidades. E finalmente o governo acordou. O móvel inicial das mobilizações foi o aumento da passagem, frente a um serviço de transportes insuficiente e de baixa qualidade. O móvel seguinte, que de repente colocou milhares nas ruas e não mais somente jovens, foi a repulsa à repressão policial, a exigência de respeito à democracia, ao direito de livre expressão e manifestação.Além destes motivos explícitos, inúmeras reivindicações apareceram. As mais constantes foram, além de transporte, saúde e educação, setores para os quais falta investimento, em contraste com os gastos fabulosos com a Copa.
Mas por que, de uma hora para a outra, levantam-se milhões em protesto no Brasil? A razão profunda, segundo vários analistas, está na forma de fazer política que vem dominando o país. Para levar à frente o que pretende, o governo se apóia na “governabilidade” – ou seja, maioria no Congresso -, para poder aprovar as leis e medidas que ele considera necessárias. Para isso, ampliou as alianças com outros partidos políticos, inclusive de direita, a tal ponto que lideranças reconhecidamente corruptas e/ou de direita, antes impensáveis, passaram a fazer parte da base aliada: primeiro Sarney, depois Renan Calheiros, depois Collor, depois Maluf…
Por outro lado, se o governo não ouvia os poucos que protestavam, os partidos políticos, pasteurizados e assemelhados, os ignoravam totalmente. Nesta política de “governo de coalizão”, o governo estava disposto a tudo, e os partidos só se interessavam pela relação “toma lá-dá cá”, estabelecida pelo governo. Houve um total descolamento entre a sociedade – os cidadãos -, e os seus representantes, tanto executivos como