Mallarmé no Brasil
Leonardo Saraiva Guerreiro
Ainda que não seja propriamente novidade afirmar que um texto poético permite interpretações variadas de si, quando se trata da obra de Stéphane Mallarmé, este conceito assume uma proporção singular. Ao longo do século XX, seus poemas serviram de plataforma para leituras que o vincularam a estéticas as mais diversas. No Brasil, o percurso da recepção deste poeta frequentemente estigmatizado como difícil transita entre associações com o Parnasianismo, o Simbolismo e o Concretismo.
A recepção dividida entre celebração e rejeição, a pouca circulação inicial do poeta e a dificuldade material de acesso à obra, mesmo na França, (conforme descreve Olga Donata Guerizoli Kempinska, em sua Tese de Doutorado, disponível online1), não tornam difícil afirmar que a circulação incipiente dos livros de Mallarmé em território brasileiro seja reduzida. Todavia, segundo Júlio Castagnon Guimarães (GUIMARÃES, 2010), sua presença existe e é detectável, havendo volumes na Biblioteca Nacional em edições que remontam a 1878. As primeiras tentativas de aproximação crítica se concretizaram na forma de rápidas referências, menções tangenciais e, quando muito, reprodução de poemas esparsos, seja no original ou na forma de traduções, que surgem em revistas como Rosa-Cruz, O álbum2, e a carioca Rua do Ouvidor. A orientação abertamente simbolista dessas publicações nos revela que tipo de abordagem se fazia do autor, característica também entrevista na observação do corpus privilegiado pelo final do século XIX, que destacava os primeiros momentos da poética de Mallarmé, onde os aspectos místicos e esotéricos são mais evidentes.
Essa apreciação, porém, não é exatamente pacífica. Entre opiniões que o descrevem como “Deus real” (ALBUQUERQUE apud PEIXOTO, 1999), surgem outras marcadas pela franca incompreensão: “Em Mallarmé encontramos um soneto cuja primeira quadra depois de horas de meditação, ainda não sabemos