Poesia

Concretismo: o texto visual  Raquel Solange Pinto

RESUMO

Este escrito enfoca a poesia concreta no Brasil, a partir de suas características gerais e de seus principais representantes, destacando o salto dado por essa poesia ao superar o verso como unidade rítmica do poema e ao atomizar a palavra, buscando explorar suas dimensões fônicas e visuais, desde sua disposição na página em branco.

PALAVRAS-CHAVE

Poesia concreta, Brasil, características, representantes.

rua rua rua sol rua rua sol rua rua sol rua rua sol rua rua rua rua rua rua
Ronaldo Azeredo

O poema acima, de Ronaldo Azeredo (1998), é um típico exemplo da poesia concreta. Marcado pela não opulência verbal, a construção do texto se dá pelo emprego de apenas dois substantivos concretos: rua e sol. Mas, nesse caso, a construção de sentido se fundamentará não só pelo emprego dessas palavras, mas, também, pela disposição gráfica que passa a funcionar como um ideograma. A palavra sol, da primeira à última linha, vai se deslocando da direita para a esquerda até desaparecer. Relacionando as fases do dia com as alterações espaciais sofridas pela palavra sol, o desaparecimento dessa palavra no último verso sugere que o sol se pôs, no fim da tarde. Ronaldo Azeredo criou um pequeno texto visual, o qual rompe com o verso e a estrutura sintática tradicional bem como com a pontuação. Corporifica uma concepção estética denominada concretismo, lançada oficialmente em 1956, com a Exposição Nacional de Arte Concreta, realizada no Museu de Arte Moderna de São Paulo. Entretanto, os três poetas que iniciaram as experiências concretistas – Décio Pignatari, Haroldo de Campos e Augusto de Campos – já se encontravam agrupados desde 1952, quando do lançamento da revista-livro Noigrandres. Abaurre e Pontara (2005, p. 604) apontam que o termo “noigrandes” aparece, pela primeira vez, em um poema provençal da