MAIS QUE INFERNAL O universo das relações interpessoais continua a desafiar a consciência humana. É um mundo misterioso e ainda indecifrado. Apesar de não lhe alcançarmos o significado total, percebemos que não se reduz a um fenômeno puramente verbal. Trata-se de intersubjetividade e não apenas de interverbalidade. O relacionamento humano é um inter-ser e não só interdizer. É um processo que deriva da estrutura humana. Somos muito ciosos de nossa individualidade e procuramos preservá-la a todo custo. Mas nos esquecemos de que ela não é tão autônoma quanto pensamos. Nossa individualidade depende muito dos outros. Não sabemos bem até onde somos nós mesmos e até onde somos os outros. Diz Lavelle: “No menor de meus gestos, no menor de meus pensamentos u’a multidão invisível está presente, misturada comigo não cessa de encorajar-me ou de embaraçar-me”. O outro está onipresente em nossa vida. Sem ele, não seríamos o que somos. O outro nos afeta por todos os lados e em todas as dimensões. Por isso, o outro nos alimenta e nos desnutre nos inspira e nos deprime nos impulsiona e nos detém. O outro nos consolida e nos ameaça, nos aprova e nos acusa nos tranqüiliza e nos incomoda. O outro nos acolhe e nos desaloja nos alegra e nos amargura. O outro está em nosso sangue, em nossa palavra, em nosso amor, em nosso trabalho, em nosso perdão, em nosso rancor, em nosso desprezo, em nossa oração, em nossa incredulidade, no ato de construir e no movimento de demolir. Nós somos o outro. Não começamos a ser sem a presença do outro. “No princípio era o Verbo”, proclama o Evangelho. Podemos acrescentar: no princípio era o diálogo, no princípio era o encontro. Martin Buber escreve: “No princípio era a relação”. Esse filósofo fala de um Tu inato na convivência, e mostra como o sentido de presença relacional acompanha os ensaios da criança e a vida dos povos chamados “primitivos”. O cafre, por exemplo, saúda dizendo simplesmente: “Vejo-te”. E