Auto Da Barca Do Inferno
No começo do Auto o anjo divide o palco com o diabo e o seu companheiro. Os dois últimos estão muito eufóricos enquanto realizam os preparativos da sua barca, pois sabem que ela partirá repleta de almas. As posturas assumidas pelo anjo e pelo diabo acentuam ainda mais a tradicional oposição entre Bem e Mal.
As poucas falas, que fazem do anjo uma figura quase estática, se contrapõem a alegria e ironia do diabo. Assim, o diabo, que conhece muito bem cada um dos personagens que serão julgados, revelando o que cada um tenta esconder, torna-se o centro das atenções e praticamente domina a peça.
A primeira alma a chegar para o julgamento é o fidalgo. Ele vem vestido com uma roupa cheia de requintes e acompanhado por um pajem, que carrega uma cadeira, simbolizando o seu status social. Esse representante da nobreza é condenado à barca do inferno por ter levado uma vida tirana cheia de luxúria e pecados. A arrogância e o orgulho do fidalgo são tantas que ele zomba do diabo quando fica sabendo qual seria o destina do batel infernal, pois deixou “na outra vida” quem reze por ele. O fidalgo dirigi-se então a barca da glória e só quando é rejeitado pelo anjo percebe que de nada valem as orações encomendadas. Só então mostra-se arrependido, mas como já era muito tarde, embarca no batel infernal.
O segundo personagem que sofre julgamento é o onzeneiro ambicioso. Ao chegar a barca do inferno o diabo o chama de “meu parente”. Ao descobrir o destino do batel infernal, ele recusa-se a embarcar e vai até a barca da glorificação, mas o anjo o acusa de onzena(agiotagem) e não permite a sua entrada. Condenado pela ganância, usura e avareza, o onzeneiro retornar a barca do inferno e tenta convencer o diabo a deixá-lo voltar ao mundo dos vivos para buscar o dinheiro que acumulou durante a sua vida. Mas o diabo não cede a seus argumentos e ele acaba embarcando no batel infernal.
A próxima alma a chegar é o parvo. Desprovido de tudo, ele é recebido pelo