Madame Bovary o desejo (en)cena
Isabela Cardoza
Valesca Campista
O amor, pensava, devia chegar de repente com grande estrondo e fulgurações – furacão dos céus que cai sobre a vida, transtorna-a, arranca as vontades como folhas e arrasta para o abismo o coração inteiro. Flaubert (1857/2009, p. 100).
1-Introdução
Afinal o que querem as mulheres? Esse foi o tema de um programa de TV no ano de 2010, que trata de um homem fazendo um estudo sobre o querem as mulheres e as mulheres apontando para o enigma e o desejo do que lhe falta como anuncia Camile Claudel na carta endereçada ao amante Rodin: “Há sempre algo de ausente que me atormenta”.
Freud tentou descrever a mulher, mas se deparou com a dificuldade de dar conta do feminino e, então, formulou a célebre frase “o enigma sois vós mesma” (Freud, 1932/1996: 134). Para o autor, no caso de haver o desejo de conhecer o universo feminino é melhor indagar da própria experiência de vida de cada um, ou dos poetas, ou mesmo aguardar até que a ciência possa fornecer informações mais consistentes. Em sua conferência XX Freud (1917) ao tratar sobre a vida sexual do neurótico faz uma referência à literatura de Flaubert dando assim a indicação de que o mesmo conhecia e lia Gustavo Flaubert.
O nosso trabalho se propõe a discutir questões que concernem a mulher no que se refere aos conceitos de falo e gozo, nos moldes definidos por Freud e Lacan articulados ao romance clássico da literatura, Madame Bovary de Flaubert (1857). Não se trata aqui de colocar a protagonista Emma Bovary no divã, mas de apontar um drama cuja história, apesar de ficção, caracteriza-se por um desenrolar de acontecimentos semelhantes aos fatos da vida real e que nos deixam estupefatos, a tal ponto que Flaubert foi processado judicialmente para que informasse quem era a mulher da vida real que representava Emma na ficção. Diante do tribunal, Flaubert respondeu: “Sou eu!”.
2- Emma Bovary: uma mulher enigmática
A jovem Ema Bovary nos é