macunaíma oswald
Como lembrou o professor João Cezar de Castro Rocha na palestra que encerrou ontem o ciclo dedicado a Oswald de Andrade, a antropofagia é, talvez, o modelo ideal para que se desenvolva no mundo globalizado um protótipo teórico internacional de apropriação de alteridade. No entanto, ele propôs uma reinterpretação da antropofagia oswaldiana que exigirá dos teóricos e estudiosos de sua obra um novo modelo, baseado não no Manifesto Antropófago, mas na obra de seu parceiro modernista e depois desafeto Mário de Andrade, Macunaíma, publicada no mesmo ano, o mais radical grito literário canibal, segundo Castro Rocha.
Num mundo culturalmente padronizado e uniformizado pelo poder da internet, a máxima do Manifesto Antropófago ("Só a antropofagia nos une. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente") tem desdobramentos sérios não só no campo cultural como político, nesse mundo de identidades instáveis, caracterizado pela mobilidade e pelo nomadismo. Assimilar a cultura do "outro" com o apetite de um canibal não é apenas um ritual, mas uma necessidade de quem está condenado a ser estrangeiro nesse planeta multicultural.
A proposta de Oswald de Andrade de exportar poesia não é mais uma utopia. Traduzido lá fora, o Manifesto Antropófago deve, no futuro, alcançar a dimensão de outros manifestos artísticos históricos como o Dada (1918). Assim como a bossa nova se tornou uma forma clássica, a antropofagia de Oswald de Andrade deixou de ser invenção teórica. Ela é hoje estudada por acadêmicos estrangeiros como o alemão Hans Ulrich Gumbrecht e o crítico argentino Gonzalo Aguiar