Machado de Assis: o cronista e a construção da metrópole textual
Machado de Assis: o cronista e a construção da metrópole textual
Níncia Cecília Ribas Borges Teixeira | Unicentro
“E tu, cidade minha, airosa e grata, Que ufana miras o faceiro gesto. Nessas águas tranqüilas, namorada. De remotos, magníficos destinos.”
Machado de Assis
Resumo: A pesquisa pondera as relações entre literatura e experiência urbana; sob essa perspectiva faz-se o levantamento das representações da cidade do Rio de Janeiro, recém-inserida na modernidade e que ainda comporta vestígios do passado colonial. O trabalho tem como objeto central a análise das crônicas produzidas por Machado de Assis, escritor que pode ser considerado retratista de um Rio que se modernizava. O estudo dessas crônicas considera, além do enfoque literário, a configuração histórica e o forte apelo jornalístico desse gênero, que, até pouco tempo, era desconsiderado pelo cânone literário.
Palavras-chave: crônica; modernidade; Machado de Assis
A crônica machadiana e a reconstrução da cidade
O passeio pelas imagens do Rio de Janeiro do século XIX e início do século XX, registrado pelo olhar dos escritores, levará à reconstrução literária da cidade. Há que se destacar a profunda heterogeneidade do campo intelectual do
151
O eixo e a roda: v. 16, 2008
Rio de Janeiro, em função do entrecruzamento de várias experiências e influências culturais. A História dos primórdios da República é indissociável da História da cidade, que exerce influência significativa sobre o mundo das artes, e em especial da Literatura.
Com a implantação do projeto urbanístico de Pereira Passos (19021906), o Rio de Janeiro foi o palco primordial da encenação cultural da elite europeizada. Os paradigmas urbanísticos de circulação, higienização e ventilação determinavam uma nova reordenação topográfica. A abertura de amplas avenidas, o bota-abaixo do casario colonial, a crescente separação entre os redutos dos ricos e as zonas periféricas dos pobres