Lírica
LÍRICA
1. As primeiras discussões acerca da literatura são feitas a partir do pensamento filosófico. Já no século VI a.C., Platão e Aristóteles se manifestaram (divergentemente) sobre o papel da literatura e seu impacto nos indivíduos. Na visão platônica, elucidada no seu livro “A República”, apenas o Rei-Filósofo (o próprio Platão) poderia ter acesso a todo tipo de conhecimento/informação – incluindo-se aí a literatura e demais expressões artísticas. Ele defendia que os filósofos eram os únicos capazes de não sofrer “prejuízos” ao serem expostos às artes. Em contrapartida, os homens comuns entrariam em choque emocional e se abalariam muito com tal exposição. Platão ainda afirmava que os soldados jamais poderiam entrar em contato com as produções literárias e artísticas, visto que não deveriam ser incentivados a ter sentimentos e fraquezas – deveriam ser criados isolados desde crianças e para serem exemplos de perfeição (tais como deuses e semideuses). Textos de caráter epopeicos como os de Homero (Ilíada e Odisseia) eram vetados e os poetas eram excluídos da ideia de república platônica (primeira forma de censura do mundo ocidental). Platão dividia o mundo em três graus: o 1º era o das ideias (perfeitas, únicas e originais), o 2º era o mundo em que vivemos – o das cópias (meras reproduções imperfeitas) e o 3º era o das artes – clandestino. Na passagem de um grau para o outro, ocorrem falhas. Tentamos reproduzir no mundo real o que já existe no mundo das ideias e produzimos algo desprovido de essência (que só possui aparência). O universo poético é o mundo inferior. O poeta cria na tentativa de ofender. Toda forma de criatividade é chamada por Platão de simulacro do mundo das ideias – não tem nem aparência e nem essência (pretende ser uma alternativa ao mundo das ideias). Para ele, a epopeia era uma grande mentira (imitação desqualificada do mundo das cópias) e a tragédia era ainda pior. Essa imitação pretendia ofender o mundo das ideias,