No primeiro capítulo de O Pensamento Selvagem, “A Ciência do concreto”, Lévi-Strauss (1976) compara o pensamento dos “selvagens” com o científico moderno. Para o autor, o pensamento dos povos tribais é algo mais “concreto”, enquanto o pensamento científico é baseado em conceitos mais abstratos. Para começar, Lévi-Strauss (1976) critica a opinião de que os “selvagens” só classificam e conceituam aquilo que lhes é útil. O autor demonstra que isso depende do ponto de vista e que, na visão dos nativos, também parece que nós só damos atenção ao que nos é útil. De certa forma isso é correto, já que cada um vê o que é útil de uma maneira diferente. Mas se pensarmos profundamente a respeito do assunto, veremos que o pensamento, tanto selvagem, quanto o moderno, pensa e classifica não só o que lhes é diretamente útil. Baseado no trabalho etnográfico de vários etnógrafos e viajantes, o autor constata a riqueza do pensamento “selvagem”. Muitas sociedades, como os hanunoo das Filipinas, classificam milhares de animais e insetos em mais de 450 categorias organizadas por semelhanças, e um número tão grande quanto este para os vegetais. Ainda possuem dezenas de classificações para as partes constituintes das plantas e animais. “É claro que um saber tão sistematicamente desenvolvido não pode estar em função da simples utilidade prática” (Lévi-Strauss, 1976:28). A partir disso, Lévi-Strauss (1976) demonstra que há uma necessidade de se pensar por se pensar. Explica que o objetivo da classificação não é de ordem prática, mas sim uma necessidade intelectual. O universo sem uma ordenação seria indistinguível do caos. A partir de princípios de oposição (claro/escuro; grande/pequeno; sagrado/profano; homem/ mulher etc) insere-se uma ordem no mundo. As coisas precisam ser agrupadas para poderem ser pensadas e relacionadas. Lévi-Strauss (1976) então conclui que a classificação não é derivada da necessidade, mas sim o contrário: as coisas são consideradas úteis e interessantes porque são