Luz e cor
Veneza, cujo comércio a ligou estreitamente ao Oriente, tinha sido mais morosa do que outras cidades italianas na aceitação do estilo da Renascença, a aplicação da forma clássica às construções por obra e graça de Brunelleschi. Mas quando o fez, o estilo adquiriu ai uma nova alegria, esplendor e vivacidade que evocam, talvez mais fielmente que qualquer outro edifício em tempos modernos, a grandeza dos grandes empórios do período helenístico, de Alexandria ou
Antioquia. Um dos edifícios mais característicos desse estilo é a Biblioteca de S. Marcos (fig.
204). O seu arquiteto foi um florentino, Jacopo Sansovino (1486-1570), mas este adaptara completamente seu estilo e maneira ao espírito e à índole do lugar, à brilhante luminosidade de
Veneza, que é refletida por suas lagunas e deslumbra os olhos por seu esplendor. Talvez pareça um pouco pedante dissecar um edifício tão festivo e tão simples, mas observá-lo cuidadosamente talvez nos ajude a ver como esses mestres eram habilidosos na tessitura de alguns elementos simples de modo a criarem padrões sempre renovados. Assim, o andar térreo, com sua vigorosa ordem dórica de colunas, é na mais ortodoxa maneira clássica. Sansovino seguiu de peno as regras de construção exemplificadas no Coliseu (fig. 73, p. 80). Aderiu à mesma tradição quando projetou o andar superior na ordem jônica, o qual leva por sua vez a uma chamada "mansarda", coroada com uma balaustrada e uma fila de estátuas. Mas em vez de deixar as aberturas arqueadas entre as ordens assentarem em pilares, como fora o caso do Coliseu, Sansovino preferiu apoiá-las em outra série de pequenas colunas jônicas e realizar assim um rico efeito de ordens entrelaçadas. Com suas balaustradas, guirlandas e esculturas, ele deu ao edifício aquela aparência de rendilhado que tinha sido usado