Lusiadas
78- Um ramo na mão tinha... Mas, ó cego!
Eu, que cometo insano e temerário,
Sem vós, Ninfas do Tejo e do Mondego,
Por caminho tão árduo, longo e vário!
Vosso favor invoco, que navego
Por alto mar, com vento tão contrário,
Que, se não me ajudais, hei grande medo
Que o meu fraco batel se alague cedo.
Camões faz uma nova invocação às Ninfas do Tejo e do Mondego e queixa-se da sua infelicidade .
Aproveita também para pedir inspiração para prosseguir o canto .
Camões conta às Ninfas o quanto tem cantado os feitos dos lusitanos. No final da estrofe faz referencia à tragédia de Éolo .
79 - Olhai que há tanto tempo que, cantando
O vosso Tejo e os vossos Lusitanos,
A fortuna mo traz peregrinando,
Novos trabalhos vendo, e novos danos:
Agora o mar, agora experimentando
Os perigos Mavórcios inumanos,
Qual Cánace, que à morte se condena,
Numa mão sempre a espada, e noutra a pena .
80- Agora, com pobreza avorrecida,
Por hospícios alheios degradado;
Agora, da esperança já adquirida,
De novo, mais que nunca, derribado;
Agora às costas escapando a vida,
Que dum fio pendia tão delgado
Que não menos milagre foi salvar-se
Que para o Rei Judaico acrescentar-se.
Camões volta a perder a esperança . No meio de tantas tempestades e com a sua falta de ânimo , surpreende-se por ainda estar vivo.
84 - Nem creiais, Ninfas, não, que a fama desse
A quem ao bem comum e do seu Rei
Antepuser seu próprio interesse,
Inimigo da divina e humana Lei.
Nenhum ambicioso, que quisesse
Subir a grandes cargos, cantarei,
Só por poder com torpes exercícios
Usar mais largamente de seus vícios;
Camões diz que não irá dar fama a que sobrepuser o seus interesses ao da comunidade. Diz também que não irá cantar nenhum ambicioso. 85 - Nenhum que use de seu poder bastante,
Para servir a seu desejo feio,
E que, por comprazer ao vulgo errante,
Se muda em mais figuras que Proteio.
Nem, Camenas,