luis sepulveda
"Entretanto os colonos destroçavam a selva construindo a obra mestra do homem civilizado: o deserto."
A selva amazónica como pulmão do mundo. Fronteira que separa o selvagem domínio dos homens e a pura verdagem onde vigora a harmoniosa lei da selva (a única versão sem máscaras para ‘verdade’).
Tudo acontece no ano de mil-ocidentais-poluídos-pela-evangelizaç... e a acção é (também) uma tribo pura que defende a paz que lhe resta.
O pulmão, na sua zona equatoriana, apresenta elevada concentração de substâncias malignas – ocas cabeças andantes com suas máquinas e desejos de conquista. Destrói árvore, caminha para o dinheiro, esmaga flor, produz dinheiro, afasta tribos, constrói muros, implementa imposto porque isto agora é propriedade do Estado e não se fala mais nisso. Tecnicamente é esse o vírus.
E, no meio de tanta cegueira, há um velho: Antonio José Bolívar Proaño. O único com a lucidez necessária para procurar o amor no estado mais puro de cada espécie. Proaño aprendeu todos os segredos da selva com os shuar (a tribo indígena da região que respeita a terra que não pertence a ninguém e, mesmo assim, é de todos) – como os próprios costumavam dizer: Proaño «não era um deles, mas era como eles» – e desfrutava da liberdade sem nunca ter questionado o que realmente significaria tal termo. Proaño fora salvo pelos shuar depois de ter sido mordido pelo mortal veneno de uma cobra.
A maior descoberta da sua vida ainda estava por fazer: Sabia ler. Estava encontrado o «antídoto contra o pesaroso veneno da velhice». E que livros queria ler o agora solitário coração da selva? De amor. De amor triste, com pessoas que se amam, com sofrimento. Desse amor total que lia sílaba a sílaba, frase a frase, em voz alta, para que a selva o pudesse engolir antes de ser devorada pelos homens.
Um romance simples, breve, mas encantador. E, porventura, o mais lido de Sepúlveda. Livro-vírus-benigno a combater ausências