Ludicidade

O ser humano criou maneiras de estar no mundo e, para transmitir suas invenções, precisou convencionar linguagens, sendo uma delas a linguagem do corpo. Para tanto, acredita-se que aquilo que pensamos sobre o corpo, como o interpretamos e agimos sobre ele parte do âmbito cultural. Neste sentido a cultura influencia de forma decisiva o modo como o corpo se expressa e se constrói como linguagem. Ou seja, o corpo comunica, criando significados e produzindo sentidos, em determinado contexto histórico.

É neste sentido que emoções, impressões e expressões podem ser percebidas na atuação do ator Charles Chaplin no filme O Grande Ditador. Vale ressaltar que a história acontece em meio a Segunda Grande Guerra Mundial, onde os judeus estavam sendo esmagados pelo preconceito alemão. Chaplin, genialmente, interpreta os dois protagonistas da história: o ditador Adenoid Hynkel (em clara referência à Hitler) e o barbeiro Judeu que era irônico e atrevido. Outro fator histórico importante é que na Alemanha dos 30, havia a impossibilidade de viver a política e o cidadão estava privado do diálogo com seus pares.

Ao se direcionar ao local do discurso Chaplim mantém no corpo uma postura de militância (coluna extremamente ereta e braços posicionados para trás) em conformidade com o período histórico de ditadura vivido. Todavia, seus olhos expressavam aparência de medo demonstrando não querer estar ali naquele momento. Mas ele nos impressiona com um discurso irônico ao momento falando com tanta veemência dos princípios humanitários, a influência da doutrina da não-violência propugnada pelo líder hindu Mahatma Gandhi, a crítica severa à civilização moderna da técnica e do progresso, fatores que subjugaram o ser humano ao domínio das máquinas, demonstrando através dos seus gestos e da linguagem oral a expressão de injustiça, raiva e indignação a toda a situação histórica vivida naquele momento.

O nosso corpo fala e, portanto, pode ser usado