Loucura
Jaime de Lima
ATO ÚNICO
CENA I
(Ao acenderem-se as luzes, entra correndo do fundo do palco uma mulher em adiantado estado de gravidez. É Maria Pitombeira. Ao chegar ao centro da cena...)
MULHER ROUBADA - (off) Pega a ladrona.
MARIA - Por aqui, já vi, não posso.
(volta-se para fugir por onde veio, quando entra a Mulher Roubada e um homem)
MULHER ROUBADA - Me devolve meu vestido!
MARIA - Escute, senhora dona Não fica bem acusar... Um ente bom, inocente...
MULHER ROUBADA - Ô cachorra de proa, Mentirosa, sem vergonha...
MARIA - Vejam a bondade no que dá!
MULHER ROUBADA - Bondade em tu? Quem foi que viu De pedra escorrer tutano? Urubu cagar pra cima? Um mês valer por um ano?
MARIA - Acontece, sinhá dona Que nunca quis lhe roubar O vestido tava no arame Quem mandou ele avuá? Foi cair perto de mim Quando ainda tava rezando Pedindo a Deus um mulambo Pra ele me abrigar. Quando vi, pensei comigo: O bom Deus já me atendeu. Teve gosto de modelo Escolheu bem o tecido... Se não aceito o presente, Vai ver Deus fica ofendido. Isso foi tudo que fiz Juro pela virgem Maria.
MULHER ROUBADA - Tu tava no meu terreiro!
MARIA - Consulte as profecias E veja que pra Deus Todo o Mundo é uma sacristia Onde quem pede, recebe, Quem implora, se alumia. A senhora foi o instrumento Da divina sabedoria.
MULHER ROUBADA - Mentira, que te vi puxando Minha roupa do arame.
MARIA - E será que é pecado Ajudar na obra de Deus? Colaborar no milagre? Cerzir o que o céu teceu?
MULHER ROUBADA - Eu só quero é meu vestido.
HOMEM - (à mulher roubada) Cale a boca, sua herege, basta de reclamação. Não sei como ela ainda fala ouvindo essa explicação Essa boca tagarela deve ter parte com o Cão.
MULHER ROUBADA – Não acreditem, é mentira.
MARIA - (chorando) Tenham de mim compaixão. Já to sentindo no buxo... As