LOCKE Da Propriedade
(Hollis ed.) [1689]
Edition used: Two Treatises of Government, ed. Thomas Hollis (London: A. Millar et al., 1764). Chap. V. Of Property; Chap. VII. Of Political Or Civil Society,
§85.1
Capítulo V. Da propriedade.
25. Se consideramos a razão natural, que nos diz que os homens, uma vez nascidos, têm direito à sua preservação e, conseqüentemente, à carne e a beber e essas outras coisas que a natureza oferece para a sua subsistência; ou consideremos a revelação, que nos dá uma conta que Deus fez o mundo para Adão, Noé, e seus filhos, é muito claro que Deus, como diz o rei Davi,
(PSAL. cxv. 16) deu a terra para os filhos dos homens, dando-a à humanidade em comum. Mas para a alguns parece ser uma dificuldade muito grande entender como qualquer um pode vir a ter uma propriedade de qualquer coisa.
Não vou me contentar em responder que é difícil gerar propriedade a partir da suposição de que Deus deu ao mundo a Adão e seus descendentes em comum; que é impossível que qualquer homem, a não ser um monarca universal, tenha qualquer propriedade, a partir da suposição de que Deus deu o mundo a Adão e seus herdeiros na sucessão, excluindo todos os restantes na posteridade. Mas vou tentar mostrar como os homens podem vir a ter uma propriedade de diversas partes daquilo que Deus deu à humanidade em comum, e isso sem qualquer pacto expresso de todos os comuns.
26. Deus, que deu o mundo aos homens em comum, também lhes deu razão para utilizá-lo para o melhor proveito da vida e conveniência. A terra e tudo que está aí é dada aos homens para o apoio e o conforto de seu ser. E embora todos os frutos que ela produza naturalmente, e os animais que dela se alimentam, pertençam à humanidade em comum, pois eles são produzidos pela mão espontânea da natureza; e nenhum corpo tenha originalmente um domínio privado, exclusivo do resto da humanidade, de qualquer deles, pois eles o são no seu estado natural; tendo sido contudo dados para a