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Os espirros começaram no instante em que a gaiolinha do gato passou perto do nariz do passageiro.
Atchim!... atchim!... atchim!
Parados no corredor do avião de uma companhia inglesa, Amy e Dan Cahill esperaram o acesso de espirro terminar. Mas não acabava nunca. Em vez disso, foi ficando mais intenso. Cada pequena explosão sacudia o corpo inteiro do pobre homem.
— Não pode ser tão grave! — disse Dan, impaciente.
Dentro da gaiolinha, Saladin olhou em volta ansioso, irritado com a barulheira: — Prrr?
Nellie Gomez, a au pair dos irmãos Cahill, surgiu atrás deles. Com o iPod tocando Ramones no último volume, ela só viu o homem se contorcendo aflito e com lágrimas nos olhos.
— Eu avisei que os tacos daquela barraquinha tinham pimentamalagueta! — ela anunciou alto demais.
Sua voz estridente atraiu a presença da aeromoça, que, em chinês, falou com o homem dos espirros e então se virou para Amy e Dan:
— Parece que o senhor Lee é alérgico a pelo de gato. O animalzinho de vocês vai ter de viajar no compartimento de carga.
— Mas deixaram a gente ficar com ele no voo de Madagascar para cá — protestou Amy.
A esta altura, Nellie tinha desligado o iPod.
— O senhor Lee não pode mudar de assento? — ela perguntou.
— Sinto muito. O voo está lotado.
Saladin não partiu em silencio. Os prrrs indignados do Mau Egípcio ressoaram pela cabine até a porta de embarque fechar.
O senhor Lee assoava o nariz enquanto Amy e Dan se espremiam para passar por ele e sentar nas poltronas. Nellie se acomodou na fileira de trás, novamente absorta em seu iPod.
— Que droga, né? — reclamou Dan, já irrequieto, embora o avião ainda estivesse parado. — É o segundo voo de um milhão de horas seguido e nós nem temos o Saladin. O que podia ser pior que isso?
Os dois se encararam por cerca de meio segundo e depois desviaram o olhar. Era uma pergunta imbecil e Dan sabia disso. O que podia ser pior? Aquela era a definiçãode pior, o verdadeiro motivo para o humor de Dan