LIvro X de Platão
NO LIVRO X DA REPÚBLICA
RESUMO: O livro X da República apresenta um longo argumento contra as artes miméticas. Entre outras coisas, afirma-se que todo produto mimético estaria restrito ao nível mais baixo do real, sendo inferiores, respectivamente, às coisas sensíveis e às Ideias. Se tal fato constituísse o cerne da objeção platônica, seguir-se-ia que qualquer produção mimética seria inaceitável na perspectiva platônica, uma vez que, por definição, seus produtos sempre ocupariam o terceiro nível do real.
Mas se esse fosse o caso, a obra abrigaria uma grave contradição ao propor a poesia, arte mimética, como base da educação da cidade ideada. A leitura detida do argumento mostra que as objeções formuladas referem-se a questões de fato, de modo que a artes miméticas, dentre as quais a poesia, tem sua possibilidade assegurada no projeto político da República.
Platão descreve na República o que seria a cidade mais perfeita possível, e faz corresponder a ela o tipo humano mais perfeito e feliz. Mas a felicidade desse homem depende de modo privilegiado da educação que ele recebe; é por isso que a educação ocupa tantas páginas da obra, fato que, por vezes, intriga o leitor.
A educação proposta na República, ao menos em sua parte inicial (composta de mousiké e gymnastiké) não constitui um rompimento radical com a educação tradicional grega, tratando-se, sim, de uma reformulação da mesma, uma
“purificação”. E no panorama tradicional a poesia tinha lugar de destaque, de modo que é natural que Platão discuta tanto a poesia. Nesse processo de
“purificação” poética, analisam-se inúmeras passagens, alternando-se juízos positivos e negativos. Porém, no livro III o resultado já se mostra bastante desfavorável à poesia.
- Se chegasse à nossa cidade um homem aparentemente capaz, devido à sua arte, de tomar todas as formas e imitar todas as coisas, ansioso por se exibir juntamente com seus poemas [...] dir-lhe-íamos