livro de susanna tamaro
SUSANNA TAMARO
ESCUTA A MINHA VOZ
Tradução de Maria Jorge Vilar de Figueiredo
EDITORIAL PRESENÇA
FICHA TÉCNICA
Título original: Ascolta la mia Voce
Autora: Susanna Tamaro
Copyright (c) 2006, Susanna Tamaro
Tradução (c) Editorial Presença, Lisboa, 2006
Tradução: Maria Jorge Vilar de Figueiredo
Fotografia: (c) Getty Images / ImageOne
Capa: Catarina Sequeira Gaeiras
Composição, impressão e acabamento: Multitipo - Artes Gráficas, Lda.
1.ª edição, Lisboa, Outubro, 2006
2.ª edição, Lisboa, Outubro, 2006
3.ª edição, Lisboa, Dezembro, 2006
Depósito legal n.º 251 922/06
Reservados todos os direitos para Portugal à EDITORIAL PRESENÇA Estrada das
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O primeiro sinal talvez tenha sido o corte da árvore.
Não me tinhas dito nada, não eram coisas que se dissessem às crianças, por isso, numa manhã de Inverno, enquanto eu escutava com profunda indiferença as virtudes do menor denominador comum, a serra feria-lhe a candura prateada do tronco; enquanto eu arrastava os pés pelo corredor do recreio, lascas da sua vida caíam como neve sobre a cabeça das formigas.
Dei pela destruição ao regressar da escola. No quintal, em vez da nogueira, havia um buraco negro, o tronco, já serrado em três bocados e sem ramos, jazia no chão, e um homem muito corado e envolto no fumo sujo do gasóleo tentava arrancar as raízes, agarrando-as com as grossas tenazes de uma escavadora que rosnava, bufava, recuava e se empinava, por entre as pragas do operário: aquelas malditas raízes não queriam deixar a terra, eram mais profundas do que o previsto, mais teimosas.
Durante anos e anos, estação após estação, tinham alastrado em silêncio, conquistando terreno palmo a palmo, enredando-se nas raízes do carvalho, do cedro, da macieira, chegando mesmo a envolver num apertado abraço os canos do gás ou da água; era por isso que as árvores eram abatidas: