literatura
DE C. DRUMMOND DE ANDRADE
Edda Arzila Ferreira *
Para J. Kristeva, o texto "é uma intertextualidade, uma permutação de textos; no espaço de um texto, vários enunciados, tomados a outros textos, se cruzam e se neutralizam. Todo texto é absorção e transformação de uma multiplicidade de outros textos" ( 1). Entretanto, essa intertextualidade deve ser entendida corno uma rede de conexões não só com outros textos, mas também, de conexões internas; é diálogo com outros textos e também consigo mesmo.
É importante notar que a primeira noção do fenômeno de intertextualidade aparece, implicitamente, em Bakhtine, quando este trata do "romance polifônico", caracterizado pela pluralidade de vozes irredutíveis a uma "mediação unitária".
Empreendendo o estudo da palavra em Dostoievski e de suas relações com as palavras de outros discursos, Bakhtine mostra como a palavra tende a ser bivocal
(ou mesmo plurivocal), estabelecendo múltiplos contatos no interior do mesmo discurso ou com outros discursos (discurso dialógico) (2). Está ai, portanto, esboçada a teoria da intertextualidade, posteriormente desenvolvida e sistematizada nos trabalhos de Júlia Kristeva.
Kristeva procura explicar a intertextualidade através do que ela chama "contexto pressuposto": ou seja, os textos pressupõem várias classes de discursos, contemporâneos ou anteriores e se apropriam deles para confirmá-los ou recusá-los, mas de qualquer forma, para possuí-los; e de tal sorte que o dorpus que precede o texto age como uma pressuposição generalizada. Assim, todo texto está sob a jurisdição de outros discursos que lhe impõem um universo: caberá ao texto transformá-los. Como decorrência, todo enunciado é, em -relação ao texto (considerado como "prática significante"), um "ato de pressuposição" que age como impulsionador de transformações. Entretanto, essas operações de pressuposição generalizada realizam conjuntos de enunciados de um texto, e também,