literatura

493 palavras 2 páginas
Carta a Stalingrado - Carlos Drummond de Andrade

*

Stalingrado

Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora, e o hálito selvagem da liberdade dilata os seus peitos, Stalingrado, seus seios que estalam e caem enquanto outros, vingadores, se elevam

A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero.
Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo que nós, na escuridão, ignorávamos.
Fomos encontra-lo em ti, cidade destruída, na paz de tuas ruas mas não conformadas, no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas, na tua fria vontade de resistir.

Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
Que quando abrirmos o jornal pela manhã teu nome (em ouro [oculto) estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu [a pena.
Saber que vigias, Stalingrado, sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos [pensamentos distantes dá um enorme alento à alma desesperada e ao coração que duvida.
Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto [resplandecente!
As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e [silêncio
Débeis em face do teu pavoroso poder, mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos e rios não [profanados, as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas, entregues [sem lutas

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