Literatura e crítica e animalidade
Quando um leitor se propõe a ler um texto literário, num primeiro momento sua expectativa é que ele seja bom mas, como avaliar esse “ser bom”? Nesse sentido, o leitor pode recorrer à opinião dos especialistas: os críticos literários, na esperança que eles digam qual obra literária é boa ou quais mereçam ser lidas. Porém, esse ato pode levar o leitor a uma “pré-domesticação” antes mesmo de sua experiência pessoal com o que pretende ler.
Antoine Compagnon (2003) afirma que o público espera que os profissionais da literatura lhe digam quais são os bons e quais são os maus livros; que os julguem, separem o joio do trigo e fixem o cânone.
Mas será realmente possível fixar esses valores sem levar em consideração a questão do gosto? E será mesmo que o leitor realmente necessita ou deve tomar para si essa crítica já estabelecida a cerca daquilo que ele ainda nem teve contato?
É necessário que se leve em conta que o texto literário não é apenas um conjunto de palavras organizadas em torno de um assunto pois, a literatura guarda um grande valor em si mesma, ou seja, é por meio dela que nós nos reconhecemos como humanos uma vez que, textos literários tem o poder de nos levar a um universo desconhecido (independente da idéia do belo) além de despertar em nós o gosto pela leitura e pela escrita nos tornando assim, indivíduos críticos. Já ao lermos um texto teórico, por exemplo, não precisamos aceita-lo como verdade absoluta, também podemos nos tornar teóricos, operacionalizar e nos posicionar criticamente acerca daquele texto. De acordo com Compagnon (1999, p. 147) “uma obra afeta o leitor, um leitor ao mesmo tempo passivo e ativo, pois a paixão do livro é também a ação de lê-lo”.
Dessa maneira, percebemos que sem texto não haveria leitor e sem leitor o texto ficaria condenado à morte e assim podemos interpretar que há uma dialética de caráter vivo entre tais instancias.
Em Memórias póstumas de Braz cubas de Machado de Assis,