Estudante
A unificação de vozes em Noémia de Sousa
Carolina Noémia Abranches de Sousa Soares nasceu em 20 de Setembro de 1926, em Lourenço Marques, uma cidade de Moçambique, que é atualmente conhecida como Maputo. Começa a trabalhar muito cedo e também muito cedo surge na senda literária: com vinte e dois anos começa a publicar no Brado Africano, periódico fundado em 1918 e pelo qual passaram grandes nomes da literatura moçambicana, como José Craveirinha, Marcelino dos Santos, Rui Nogar e Virgílio de Lemos. Assim como o jornal em que estreia, Noémia traz em sua escrita um grito de revolta, de denúncia, de contestação, de consciência da realidade colonial que a cerca e, acima de tudo, consciência de sua identidade como africana negra e da responsabilidade que isso lhe impõe. Sua voz no texto nunca é entendida como a individual, unicamente sua; é a “coletiva”. Não fala por si só, a poeta, e sim por um povo inteiro - povo moçambicano. Desta forma, a poetiza assume-se como porta-voz daquele povo que é o seu e, dirigindo-se à terra-mãe que os acolhe e protege, ora canta a sua vida, ora lhe pede perdão pela alienação demonstrada ao longo de tanto tempo, ora (mesmo) lhe promete a rápida e definitiva devolução do seu direito a uma vida própria, autêntica. Em suas publicações, Noémia recusa os padrões europeus vigentes. Deixa de lado o padrão do colonizador para buscar uma poesia própria, assim como muitos outros poetas moçambicanos do período. Buscando a independência e o fim do colonialismo, não bastava o fim do julgo físico, econômico e político português. Era preciso também reinventar sua forma de ver o mundo, o seu país e a si mesmos. Em uma realidade em que o processo de inferiorização e apagamento cultural fora tão forte e existira por tão longo tempo, era preciso deixar de lado o que era externo para buscar a afirmação da identidade africana. A afirmação de ser gente. E ela, assim como muitos outros, encontrou seu caminho pela escrita,